Pensar no futuro e no meio ambiente é também uma questão de economia. Ao contrário do que diz o senso comum, a água potável é um recurso finito, portanto adotar uma gestão responsável do sistema hidráulico da construção pode trazer benefícios para o orçamento individual, de empresas, das contas públicas e da natureza. Dizer que a água vai acabar não significa exatamente que os mananciais vão secar. Porém, o processo de tornar a água potável (potabilização) custa caro e, à medida que os rios e lençóis vão sendo mais e mais sujos, os investimentos necessários para tornar a água consumível serão altíssimos no futuro – o que será repassado ao consumidor ou implicará em fornecimento mais restrito. Economia de até 40% com reuso As medidas a serem adotadas pela sociedade incluem economia e menor taxa de desperdício. Certas atitudes como conserto de vazamentos e troca de válvulas antigas ajudam a diminuir em até 40% o gasto desnecessário com água em condomínios residenciais, por exemplo. Neste contexto, a reutilização da água aparece como alternativa para propriedades com volume grande de gastos hídricos, como indústrias, empresas e conjuntos habitacionais. O princípio da água reciclada é tratar o que se usou, que iria para a tubulação de esgoto, para aplicação em outros fins. Como funciona o reuso Uma boa alternativa para as construções em andamento e uma opção para os imóveis antigos, é o sistema para reutilização da água, que permite aproveitar as águas da chuva, de um poço artesiano ou mesmo a que desce o ralo. Os recursos captados são tratados e chegam novamente aos imóveis por uma tubulação diferente. Desta forma, pode-se usar a água reciclada para lavar o carro, a calçada, fazer faxina, encher a piscina, ou mesmo para fazer o resfriamento em processos industriais. Esses procedimentos não necessitam de água potável, como é o caso de bebedores em escolas, por exemplo. Estas estratégias podem incentivar autonomia de suprimentos, além do uso racional e da água, com certificação de qualidade. De acordo com Antônio Cláudio Lot, diretor da empresa Hidrogesp (especializada em soluções para abastecimento hídrico), no caso de uma fábrica de automóveis a instalação de um sistema de reuso pode significar em economia de até 70% de água no processo produtivo. Barreira cultural Segundo ele, a técnica no Brasil não chega nem a 1% das instalações e encontra uma barreira cultural, pois ainda não se confia no sistema de tratamento não proveniente das empresas oficiais (como Sabesp, por exemplo). Mesmo assim, ele lembra que a água encanada também apresenta contaminações ou excesso de cloro, por exemplo, o que leva ao uso de purificadores pelo consumidor final. Para Lot, se 10% das indústrias adotassem a reutilização da água, a economia seria equivalente à metade do volume gasto na grande São Paulo em um dia (1,6 bilhão de m³). Quanto custa a instalação A inclusão de um sistema de reuso durante o processo de construção de um imóvel é mais barato. Ao custo total da hidráulica pode-se acrescentar aproximadamente 30%. Para uma edificação já construída, o custo é de uma instalação 100% nova, o que representa cerca de 5% do valor total do imóvel – ou dos imóveis – a serem reformados. A tubulação é instalada externamente e os consumidores recebem uma entrada separada para a água de reuso. O tempo de instalação é de aproximadamente três meses, mas, assim o preço pode variar de acordo com o tipo de resíduo que é despejado na água – o que exige etapas diferentes e mais complexas de tratamento. Uma opção para prédios residenciais é a instalação de reuso por consórcio, distribuindo custos e benefícios entre vários imóveis, com um reservatório único. Legislação a caminho O prefeito de São Paulo José Serra aprovou em 1o de julho a lei 14018, que obriga as construções superiores a 10 mil m² a instalarem sistemas de reuso. O texto estabelece um prazo para adaptação e, ainda não foi sancionado – algo que deve acontecer nos próximos meses. Segundo Antônio Cláudio, a solução mais próxima para o uso racional da água está na implantação de campanhas pedagógicas para restabelecer os hábitos de consumo. `A lei não tem efetividade em curto prazo, não tem como fiscalizar`. Lot diz ainda a prefeitura criou a legislação para se posicionar frente à discussão em torno dos recursos hídricos, mas não fará ação efetiva neste sentido. De acordo com ele, no Brasil não existe o conceito de não sujar para não ter que limpar. O país conta com apenas 10% de tubulação de esgoto. Os Estados Unidos possuem 70% e a Alemanha com 98%. Esses números confirmam que os brasileiros sujam mais os mananciais e que isso dificulta cada vez mais as possibilidades de abastecimento normal. Essa é a tendência do que ocorre com rios como o Tietê. Despoluir a água proveniente dele é caríssimo, mas, se parassem de sujá-lo, seria possível reutilizar a água como é feito na França e Inglaterra.
Pensar no futuro e no meio ambiente é também uma questão de economia. Ao contrário do que diz o senso comum, a água potável é um recurso finito, portanto adotar uma gestão responsável do sistema hidráulico da construção pode trazer benefícios para o orçamento individual, de empresas, das contas públicas e da natureza.